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  • Foto do escritorVitor Friary

Terapias Comportamentais e Cognitivas baseada em Mindfulness e Aceitação


A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das principais abordagens em psicoterapia. Ela ensina o paciente a examinar a relação entre os pensamentos disfuncionais e comportamentos não-adaptativos e reavaliar os vieses cognitivos envolvidos na manutenção dos sintomas por meio de inúmeras estratégias, como por exemplo a descoberta guiada.

A TCC está em constante evolução, em parte, para melhorar a sua eficácia e acessibilidade. Assim, na última década, abordagens cada vez mais populares com base em mindfulness e aceitação têm surgido.

Estas terapias não tentam modificar cognições, mesmo quando elas são tendenciosas e disfuncionais, mas sim buscar uma mudança na relação entre o indivíduo e os sintomas. Hayes (2004), co-fundador da Terapia de Aceitação e Compromisso descreveu três gerações ou "ondas" sucessivas em terapias comportamentais, cada uma caracterizada por pressupostos dominantes, métodos e objetivos: A Terapia Comportamental tradicional, as Terapias Cognitivas e as Terapias baseadas em Mindfulness e Aceitação.

Estas últimas consideram que o sofrimento humano ocorre quando o indivíduo vive uma vida restrita, e quando ele passa grande parte do seu tempo tentando evitar a dor e o desconforto imediato em detrimento de seu bem-estar global. Estas terapias combinam mindfulness, práticas experienciais, estratégias de aceitação com os princípios da análise do comportamento tradicional, a fim de alcançar mudanças e resultados terapêuticos duradouros.

Há pontos importantes de convergência entre a TCC tradicional e terapias com base em mindfulness e aceitação. Ambas são empiricamente validadas, com base em um modelo teórico postulando que a evasão é a chave para a manutenção da psicopatologia e eles recomendam uma estratégia de abordagem, a fim de superar o problema identificado. Ambas usam técnicas comportamentais no contexto de uma relação de colaboração, a fim de identificar problemas concretos para alcançar objetivos específicos. Elas se concentram no momento presente, em vez de causas históricas da vida do cliente.

No entanto, também apresentam diferenças significativas: controle vs aceitação de pensamentos, foco na cognição vs comportamento, o foco na relação entre o indivíduo e os seus pensamentos vs conteúdo cognitivo, o objetivo de modificar crenças disfuncionais vs processos metacognitivos, uso de práticas experienciais vs métodos didáticos, focar sintomas vs qualidade de vida, estratégias utilizadas antes vs depois do desdobramento da resposta emocional completa.

As principais terapias baseada em mindfulness e aceitação são: Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) , Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), o modelo ampliado de Ativação Comportamental (BA), Terapia Metacognitiva (MCT), Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness (MBCT), Terapia Comportamental Dialética (DBT), Terapia Comportamental Integrativa de Casais, e Treinamento da Mente Compassiva (CMT).

Estas oferecem conceitos e técnicas que podem aumentar a eficácia terapêutica. Elas ensinam uma nova maneira do cliente abordar seu potencial de atenção e estabelecer um relacionamento com a experiência que lhe ocorre no aqui-agora (por exemplo, através do processo de desfusão cognitiva), a fim de diminuir a tendência do cliente de se identificar com pensamentos que não lhe são úteis. O mesmo é considerado um fator de manutenção de psicopatologia. O objetivo dos seus processos terapêuticos é aumentar a flexibilidade psicológica, isto é, a capacidade do sujeito de agir em direção de coisas importantes em sua vida, mesmo na presença de pensamentos, sensações e sentimentos difíceis que possam surgir durante esse movimento.

O foco no processo cognitivo, a metacognição, bem como o conteúdo cognitivo pode trazer benefícios adicionais na terapia. É possível combinar a Terapia Cognitivo-Comportamental tradicional com abordagens da terceira onda usando psicoeducação e reestruturação cognitiva nas fases iniciais do tratamento, a fim de estabelecer viés de pensamento e, em seguida, encorajar a aceitação de experiências internas, bem como a exposição a estímulos aversivos em vez de continuar a usar técnicas de reestruturação cognitiva.

A TCC tradicional e a as abordagens da terceira onda parecem afetar diferentes processos: o primeiro tem como objetivo melhorar a capacidade do cliente de observar e descrever experiências e por último diminuir a tendência do indivíduo de engajar com estratégias de evitação experiencial. Também têm o propósito de aumentar a habilidade de agir conscientemente, através de uma disposição de experienciar de estabalecer um contato com o presente momento.

A identificação de valores e direções de vida importantes ajudam os clientes a tornarem-se motivados na realização de as ações necessárias para a melhoria da sua qualidade de vida. No caso de doença crônica, diminui o sofrimento pela crescente aceitação do presente momento, o que não significa resignação, e sim uma atitude ativa e qualitativa para se perceber o que é sentido agora. Pesquisas indicam que a aceitação paradoxicalmente tem um efeito positivo na forma em que o indivíduo lida com a dor.

Embora a base de evidências que suportam a eficácia das terapias da terceira onda é menos robusta do que no caso da Terapia Cognitiva ou Terapia Comportamental tradicional, por parte por causa de serem terapias mais recentes, as terapias baseadas em mindfulness e aceitação são intervenções promissoras que podem ajudar a elucidar o processo de mudança e oferecer estratégias complementares, a fim de ajudar pacientes significativamente.

No Estados Unidos e na Europa as terapias baseada em mindfulness e aceitação são bem reconhecidas e no Brasil o interesse por parte de Psiquiatras e Psicólogos Clínicos tem se tornado cada vez maior. Contamos com estudos de pesquisa em Universidades como a PUC do Rio Grande do Sul, e as Federais UFRJ, UNIFESP, UFJF, entre outras.

TEXTO:

Vitor Friary

Diretor/Terapeuta no Centro Mindfulness (RJ)

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